Eu fui o último a rir. - Análise do Pentão #83
- Penta Rodriguez

- há 10 minutos
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10 de Dezembro de 2025, uma quarta feira.
Eu tinha recém acabado de jantar com o meu pai, e estava na frente da TV pra ver o jogo que eu estava esperando desde setembro.
Cruzeiro e Corinthians, no Mineirão, pela semifinal da Copa do Brasil.
O Corinthians vinha jogando um futebolzinho desgraçado já há um bom tempo. A única coisa que me fazia ainda crer em felicidade era a mística do Dorival com a Copa do Brasil, e o poder de decisão de alguns jogadores do elenco.
E naquela noite, eu tive a primeira suspeita de que isso seria o suficiente.
Carrillo cruza na área, Yuri Alberto cabeceia, Memphis domina, confunde o Cássio, e conclui pro gol. 1x0.

Seguramos o resto do jogo inteiro e deu certo. Sobrevivemos. Vamos pra Itaquera em vantagem.
E durante a comemoração na madrugada, eu li a Wikipedia do Memphis e descobri que Ligres existem.


Aí no dia seguinte eu vejo cruzeirense chorando dizendo que a bola bateu na mão do Memphis quando ele dominou, usando um único ângulo do lance em 360p.
KKKKKKKKKKKKKKKKKK reembolso.

Então começou a espera pelo domingo. Acompanhei o Flamengo no Mundial de Clubes, eliminaram Cruz Azul e Pyramids, continuei vendo corridas antigas da F1, vi o Ekitike cravar dois no Brighton... e aí chegou domingo.
Dessa vez não vi com meu pai, estava sozinho em casa, ele tinha compromisso.
E foi assim que vi o Cruzeiro abrir o placar em Itaquera com Arroyo no primeiro tempo.
Fiquei puto, mas continuei ali. Vi o Irish Guy desabafando no YouTube depois do Newcastle perder o Tyne-Wear derby pro Sunderland, e aí começou o segundo tempo... e o Arroyo fez o segundo gol.
Eu tive um acesso de raiva e desliguei a TV. Fui pro meu quarto e desliguei a luz.
Irritado e triste na escuridão. Como sempre.
A escuridão da derrota é um lugar que eu me acostumei a estar nos últimos anos. Tantos foram os títulos que meus times jogavam fora. Desde a Copa do Brasil de 2018 até aquela semana de 2022 que o Liverpool perdeu Premier League e Champions, eu só me decepcionava com esse esporte.
Eu não queria voltar pra escuridão.
"ah penta foi daí que tu tirou a frase" Não, foi porque um monte de corinthiano tava usando a frase do Poatan do UFC falando "eu não quero voltar pra borracharia" e eu tava ouvindo essa música aqui da soundtrack do Pathologic 2. Essa explicação aí foi só pra frase fazer sentido.
E ali eu fiquei. Enquanto isso, em Itaquera, Garro cobrou falta, Ramalho cabeçeou pra evitar a saída de bola, Cássio espalmou mal e Bidu fez 2x1. Recebi a notificação e joguei um cara ou coroa pra ver se ligava a televisão de novo. Deu que não. Então seria só na base da timeline mesmo.
Mandamos duas bolas na trave. O gol só não saía. E acabou o tempo normal.
Joguei outro cara ou coroa. Dessa vez, deu pra eu ligar a TV. O sobrenatural me acompanhou lindamente nesse dia, devo dizer.
Fomos as penalidades. Hugo contra Cássio. Nosso presente contra nosso passado.
Matheus Pereira cobrou o primeiro, Hugo acertou o canto, mas o Cruzeiro fez 1x0.
Yuri bateu mal, Cássio pegou. Nessa hora, eu achei que já tinha visto o script. Ainda mais depois que o Vanderson bateu no meio e fez 2x0.
Daí foi o Memphis. Bola num lado e Cássio no outro. Ufa. 2x1.
William bateu e fez, 3x1. Garro cobrou e fez, 3x2. Lucas Silva cobrou, Hugo acertou o canto, mas foi gol mesmo assim. 4x2, três match points seguidos pro Cruzeiro.
Vitinho na bola, Cássio acerta o canto... 4x3. Ufa.
Gabigol na bola. O mesmo inimigo de 2022. Partiu pra bola... e tomou nó tático de seu ex-companheiro de Flamengo. Hugo Souza defendeu.
Gustavo Henrique bate e faz. Os três match points foram pro espaço. 4x4.
Walace bate, e Hugo defende DE NOVO. A chance de ouro. Nos pés do filho do terrão. Do Mateus Vital que deu certo. Do Twink da Fiel. Breno Bidon.
Ele vai pra bola... e faz. 5x4. ESTAMOS NA FINAL.


EU NÃO QUERO VOLTAR PRA ESCURIDÃO.
E foi aí que me caiu a ficha. Uma vitória e um empate contra um time carioca que não é o Flamengo. Era só isso que a gente precisava fazer e esse jejum de título grande acabava. A Copa do Brasil se esquivava de mim desde que eu tinha 8 anos e vi Ronaldo Fenômeno, Dentinho e Jorge Henrique nos levando ao topo do país. A primeira vez que sonhei.
Continuei meu dia, jantei, e vi os pênaltis de Vasco e Fluminense. E eu vou ser sincero: queria o Vasco. Era o adversário mais fácil, e um freguês histórico. E foi isso que me deram.
Vasco e Corinthians, 25 anos depois do Mundial de Clubes de 2000, decidiriam outra taça no Maracanã. No ano em que o nosso uniforme era justamente em homenagem a final de 25 anos atrás.
Tinha que ser dessa vez. Tinha que ser a nossa vez.
Era bizarro que o script tava total do lado do Vasco. Eliminou dois rivais nos pênaltis, o Coutinho tinha voltado, e eles enfrentavam sua maior pedra no sapato na final. O time que eles só haviam batido duas vezes nos últimos 18 anos. O time que eles nunca haviam se classificado em mata-matas.
Eu nunca estive tão ansioso pra um jogo do Corinthians desde aquele 4 de Julho de 2012. Tinha que ser.
Chegamos a Neo Química Arena. Noite de quarta... e fizemos um dos piores jogos do ano.
0x0, nada aconteceu fora dois gols impedidos, um pra cada lado. O Dorival ainda saiu de campo xingando um torcedor. O Yuri Alberto perdeu um gol claríssimo. Memphis saiu irritado depois de ser substituído. A decisão ficou pro Maracanã, um estádio em que o Corinthians não vencia um mata-mata há 30 anos.
E lá estava eu mais uma vez na escuridão da derrota.
Não podia ter sido tudo em vão.
A chegada do Memphis. As 9 vitórias seguidas. O The Great Escape Brasil. A classificação pra Libertadores e pra própria Copa do Brasil, que em novembro a gente tinha 0,004% de chance de classificar. O título paulista pra quebrar o jejum de título, com o Hugo pegando pênalti e a gente se segurando com um a menos. A classificação no Allianz. A disputa de pênaltis contra nosso antigo ídolo.
Não podia ter sido tudo em vão.
Eu não vou voltar pra escuridão.
Eu esperei. Vi o Liverpool ganhar fora de casa do Tottenham de 2x1 enquanto isso, e só conseguia pensar na final. Ansiedade e tensão.
Eu não quero ser vice dessa porra de novo. A gente merece ser feliz.

Começou o jogo. Tenso, pegado, do jeito que uma final é. Aí, aos 18 minutos de jogo, Matheuzinho manda pro Yuri, que não fazia gol há sei lá quanto tempo, que domina, e conclui pro gol. 1x0. ESTAMOS NA FRENTE.
Era só segurar. Estamos na frente. Esse calvário tá no fim.
Yuri tem outra chance, cara a cara com Léo Jardim, pra enterrar o jogo ainda no primeiro tempo... e chuta por cima. Não dá pra confiar no Darwin Nunez brasileiro. E como nada pode ser fácil pra nós, perto do fim do primeiro tempo, Raniele perde uma bola fácil no meio campo, o Vasco aproveita e empata com Nuno Moreira. 1x1, e assim se acabaram os primeiros 45 minutos da decisão.
No segundo tempo, mais do mesmo. Até que José Martinez, que sempre aparece em jogo grande, desarma Pumita Rodriguez e passa pro Bidon, que dribla Cauan Barros lindamente e passa pra Matheuzinho, que avança e encontra Yuri Alberto perto da linha de fundo, que manda pra área. Léo Jardim fora do gol, e a bola persegue o craque.
Memphis Depay.
Camisa 10.
O homem que chegou do Reino Encantado da Holanda pra nos tirar da escuridão e nos levar a uma era de luzes douradas.
2x1.
Era só segurar.
E seguramos.
Fomos os últimos a rir.
Sport Club Corinthians Paulista, Tetracampeão da Copa do Brasil.
Essa foi a primeira vez que eu chorei de felicidade com futebol. Só isso já diz o tamanho desse título pra mim.
Memphis disse em entrevista ontem pra quem está na diretoria e quer foder o clube, que saia, e ele está coberto de razão. Esse clube, tal como ele também disse, tem que estar brigando por Libertadores e Brasileirão todo ano. Pois é isso que um time da grandeza do Corinthians merece.
Não sei se isso vai ser apenas outro falso amanhecer, provavelmente vai, eu conheço esse time. Mas é o mais gostoso deles.
Somos campeões de novo. Finalmente.
Oito anos depois, o sofrimento acaba.
Até o ano que vem.







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