Boa noite e formosura! Continuo existindo aqui enquanto meu amigo pinguim e suas fitas adesivas permitirem, retornando tal qual cão arrependido após quase dois anos para fornecer minha visão desqualificada sobre temas pouco interessantes. Neste caso, pelo menos aqui no Brasil, até onde conheço.
O que é Eurovision Song Contest (Eurovision ou ESC)? Em resumo: um festival internacional envolvendo no geral países da Europa e arredores que acontece desde 1956, e que atualmente, é o evento não-esportivo de maior audiência no mundo. A quem interessar, deixo um guia muito bom feito pelo meu amigo Matheus, do portal Kolibli.
Meu interesse pelo festival surgiu em 2020, quando estávamos em casa e assim permanecemos por um tempo. Coincidentemente, por razões sanitárias, 2020 foi o único ano em que o evento não ocorreu. Eu assisti algumas das edições passadas, informei-me sobre o histórico, ouvi e ouço bastantes das músicas que participaram de diversos anos, e hoje, faltando uma semana para termos sendo transmitida a ESC 2023, resolvi ranquear as canções participantes de acordo com a minha formosa opinião.
Importante ressaltar de novo que esta lista foi feita antes do evento acontecer: muita música acaba sendo valorizada (ou decepciona) pela apresentação. Sem mais rodeios, temos 37 músicas, 37 artistas, 37 países concorrendo:
37 • Reiley - Breaking My Heart | Dinamarca
Será a primeira vez que um artista das Ilhas Faroé se apresentará no palco da Eurovision. Sinceramente? Uma pena para os faroeses. A música tem toneladas de autotune e efeitos que a tornam irritante. O ritmo e a letra fazem-na parecer ter vindo direto de alguma rede social de vídeos curtos em orientação vertical quando não há nenhuma conta logada e o algoritmo traz o que há de mais genérico e estereotipado sobre os aplicativos. De longe, a canção menos interessante do ano para mim.
36 • Blanca Paloma - EAEA | Espanha
Do que chamei de genérico, vamos ao que é tão diferente e estranho que eu mesma não consegui apreciar. O instrumental, que bebe do estilo flamenco, mas é eletrônico, lembra na verdade música de algum game independente baseado em puzzles. A canção, segundo a própria Paloma, é dedicada a avó, que a influenciou muito na música. Apenas imagino como a infância deve ter sido…
35 • Victor Vernicos - What They Say | Grécia
Saindo do que posso destacar por excentricidade ou falta dela e entrando no que simplesmente não me é especial, temos pela Grécia algo que passaria durante a madrugada em algum canal de televisão dedicado a música. Eu não lembraria do artista, do título da canção, e se entrasse na minha cabeça, seria pela combinação de repetição e insônia.
34 • Iru - Echo | Geórgia
Aqui, algo que poderia tocar em alguma tela de créditos no cinema. Particularmente, a voz dela não me agrada, pelo menos não na versão de estúdio. Consigo imaginar algo marcante se a apresentação for bem orquestrada ao vivo, mas a música em si passou reto por mim.
33 • Gustaph - Because of You | Bélgica
Eu gosto do ritmo e a voz dele me agrada, tanto que, estranhamente, amei a versão acústica postada no canal oficial da ESC. A versão oficial, no entanto, com o arranjo que apresenta, por alguma razão, passa por mim batida. No máximo, me evoca a sensação de estar num provador em uma loja de roupas.
32 • Mia Nicolai & Dion Cooper - Burning Daylight | Países Baixos
Casais na Eurovision costumam harmonizar muito bem e esta é uma música que tem potencial para crescer um pouco ao vivo. No entanto, a melodia em si não brilha em relação ao que eu colocaria na final.
31 • Diljá - Power | Islândia
Depois de uma sequência muito boa vinda da Islândia ao longo desse comecinho de década, algo ao meu ver não tão inspirado. Apesar da presença e da voz potentíssima mostradas pela Diljá, a música soa vazia, em vários sentidos. O arranjo contando apenas com a batida e os vocais ao fundo, o palco vazio salvo pela cantora, a letra aparentemente sobre um término de relacionamento… memorável pelo refrão, mas nada demais fora isso.
30 • Albina & Familja Kelmendi - Duje | Albânia
Mais uma vez, a Albânia aposta em uma cantora com vozeirão cantando no idioma nativo. Há elementos tradicionais na melodia e a letra chama por uma reunião dentro de uma família que se desentendeu. Uma apresentação que também pode crescer ao vivo. Pretendo, claro, trazer uma lista diferente com minhas impressões e opiniões após o show.
29 • TuralTuranX - Tell Me More | Azerbaijão
Uma dupla de gêmeos levando a Liverpool uma canção romântica que soa como uma banda indie que faria o ensino médio de muita gente. Não obstante aquela energia que mencionei de música que tocaria durante a madrugada na televisão, desta eu certamente me lembraria, mesmo não sendo algo que teria muito espaço nos meus fones de ouvido.
28 • Blanka - Solo | Polônia
O pop nosso de cada dia: é uma música leve, gostosa, até cativante, com um refrão que é completamente grudento, mas que pelo menos a mim não irrita. Entretanto, mesmo sem considerar o quão horrorosa foi a apresentação da Blanka na seletiva nacional polonesa (que diga-se de passagem, é o segundo ano em que espectadores acusam fraude na votação), não consigo classificá-la acima disto.
27 • Piqued Jacks - Like An Animal | San Marino
Sinceramente e sem fingir imparcialidades, eu queria gostar dessa música. Nutro certa simpatia por San Marino na Eurovision: a pequenininha, sereníssima república costuma ser desprezada na maioria das edições, mesmo quando a música por bem ou por mal é memorável e o artista se garante no palco. Dessa vez até teríamos algo com potencial, não fosse algo tão, mas tão repetitivo.
26 • Andrew Lambrou - Break a Broken Heart | Chipre
Ao longo dos últimos anos, o Chipre parecia querer tentar replicar o sucesso de Fuego (2018) sem muito êxito: desta vez, manda algo que não chama tanta atenção pela unicidade em si, mas que tem potencial de surpreender ao vivo e se destaca em relação ao histórico recente da ilha na competição. Entregando no palco o que entrega no estúdio, Lambrou deve conseguir espaço na final.
25 • Mimicat - Ai Coração | Portugal
Os portugueses na ESC quase sempre mandam algo autêntico, no idioma luso, valorizando-se culturalmente… e pergunto: estão errados? Mimicat deve aprazer o público e se consolidar na final: com elementos teatrais e instrumentos derivados do fado, é uma apresentação única e divertida, que ao meu ver, merece.
24 • Remo Forrer - Watergun | Suíça
Com uma canção antiguerra de melodia crescente e uma voz agradável, longe de ser ruim a escolha da Suíça. Apesar da qualidade, porém, não se destaca muito em relação ao restante das seleções deste ano e a passada lenta não apraz em geral o público votante (que em 2023 será o único critério a definir os vinte finalistas não-previamente classificados). Se formos considerar o ano passado, quando os votos do júri pesaram muito para que a canção também melancólica de 2022 avançasse, a presença desta apresentação na final torna-se incerta.
23 • Brunette - Future Lover | Armênia
Future Lover me traz uma certa nostalgia. A estrofe do meio da música traz à minha memória as músicas pop/R&B da metade da década de 2000. A letra fala sobre uma pessoa que ainda não apareceu, não foi vista, pode nem sequer existir, mas que ocupa muito da mente da eu-lírica, causando nela ansiedade e crises de pânico. Tem muito potencial para crescer no palco, sem sombra de dúvida.
22 • Marco Mengoni - Due Vite | Itália
Não seria necessário falar o país antes de apresentar esta canção na final. Apesar de me parecer um tema de novela, um pouco clichê, a música é bonita, bem arranjada, não precisa de muito mais ornamento ao palco do que mostrou em Sanremo, e principalmente, Marco tem voz de sobra para levar uma boa apresentação para Liverpool.
21 • Monika Linkytė - Stay | Lituânia
A letra e a boa performance vocal salvam bastante de uma música que, por mim, poderia ficar tranquilamente de fora da final não fossem estes dois diferenciais fortes. De Monika em Monika, a Lituânia continua com apresentações carismáticas, ainda que não muito espetaculares.
20 • Alika - Bridges | Estônia
De forma quase mandatória, no que vi na minha recente trajetória como espectadora do festival, sempre temos pelo menos uma música que caberia em um filme da Disney ou algum número músical de teatro. Elas sempre são bem executadas, até memoráveis, mas acabam passando batidas em relação ao restante da edição, salvo notáveis exceções. Mesmo em uma edição que não contará com o voto dos júris nacionais nas semifinais, somente do público, vejo, em relação ao restante da segunda semifinal, Alika classificando a Estônia pela voz.
19 • Let 3 - Mama ŠČ! | Croácia
Trator.
18 • Wild Youth - We Are One | Irlanda
Talvez inclusive por questão de memes internos envolvendo o dono do porta durex, eis o que me parece ser uma opinião impopular minha (e qual não deve ser?). Trazendo uma mensagem simples de união e ao mesmo tempo um clima até de celebração, eu diria, Wild Youth na final no sábado é algo que me abriria um sorriso.
17 • The Busker - Dance (Our Own Party) | Malta
Um ode aos introvertidos! A quem quer festejar sem deixar de se sentir confortável; a quem não precisa de multidões, mas definitivamente precisa de amigos. Que no palco em Liverpool, conquiste o público que, em grande parte, estará se sentindo bem com seu blusão favorito no sofá, quiçá dançando em casa. Uma apresentação que promete, sinceramente, ser fofa.
16 • Theodor Andrei - D.G.T. (Off And On) | Romênia
Se é para sofrer, soframos com estilo. Theodor canta sobre o conflito interno causado por um relacionamento tóxico, onde o eu-lírico sabe que se machuca, mas está perdidamente apaixonado pela manipuladora mulher que o tem nas mãos. O trunfo desta apresentação está no figurino e na coreografia, principalmente. Mais uma canção que pode se valorizar muito durante o evento a depender da performance e de como se organizará o palco.
15 • Loreen - Tattoo | Suécia
Sempre há aquilo que "todo mundo gosta, menos você". Loreen é uma cantora fora da curva, com uma ESC conquistada em 2012, dispondo de um stage bem organizado… mas a música não me pegou do jeito que talvez deveria. Não é algo que eu ouviria isoladamente, e apesar da técnica impecável, da voz beirando a perfeição, simplesmente não é para tanto. 2023 não carece de canções fortes, algumas inclusive podem ser ainda menos surpreendentes ou mirabolantes, mas mereciam a mesma, se não mais atenção do que o que vem do Melodifestivalen. Não fosse o clima de "já ganhou" por parte de fãs mais cegos, Tattoo poderia estar até acima nesta minha lista pessoal.
14 • Alessandra - Queen of Kings | Noruega
Cinematográfico sem se tornar chato ou clichê. Alessandra tem presença, tem voz, é virtualmente impossível passar reto por essa entry. Senti, porém, que a performance ao vivo na seletiva nacional careceu de algo, mas não sei dizer bem o que é que faltou. Talvez um pouco mais de instrumental na hora do BATIDÃO™️, talvez algo no stage… eu confio que na final, a resposta vai aparecer.
13 • Vesna - My Sister's Crown | República Tcheca
Uma mulher exaltando a outra em quatro idiomas diferentes: não tem como eu não gostar disto, talvez essa seja a história da minha vida. Pela primeira vez apresentando-se com a nomenclatura "Chéquia" em vez de "República Checa", o país manda uma música que combina um refrão grudento com uma balada eletrônica étnica de mensagem forte. Além disso, a julgar pelo clipe, Vesna vai surpreender na forma com que vai montar o palco. Altas expectativas.
12 • Voyager - Promise | Austrália
Não, Danny, eu nunca fiz isso antes, e espero que a Austrália não precise se preocupar em não poder fazer isso depois. Pode ser o último ano do país oceânico na atração televisiva europeia da qual curiosamente participa, mas se infelizmente for o caso, sairá de cabeça erguida. De todas as músicas que têm potencial para se valorizar na apresentação ao vivo, esta é provavelmente a que tem maior curva neste sentido ao meu ver: exala epicidade e traz elementos progressivos que podem arrancar votos de ouvintes mais alternativos.
11 • Noa Kirel - Unicorn | Israel
Não acredita em mim? Sem problemas, eu posso ser um unicórnio. A música é criativa, com uma construção boa, gera hype, tem batida. Chega a lembrar algo diretamente vindo de algum grupo conhecido de k-pop. Só espero que entregue tanta coreografia quanto sugere, a performance ao vivo implorará por isto.
10 • Teya & Salena - Who the Hell is Edgar? | Áustria
Não sei nem por onde começar: temos um clipe com cosplay de Edgar Allan Poe dançando, um refrão potencialmente viral, mas ao mesmo tempo, uma crítica bruta à indústria da música. Fala-se de ghostwriters, remuneração ruim por parte de serviços de streaming, uma direta endereçada à Universal… bem vinda de volta à final, Áustria!
9 • Luke Black - Samo Mi Se Spava | Sérvia
A minha primeira impressão não foi boa, eu admito, mas passou. Aparentemente, este é o rumo que a Sérvia escolheu tomar pelo segundo ano consecutivo: avantgarde, ousado, não simplesmente pop, mas algo completamente subjetivo e experimental. E pelo menos na superfície, "eu só quero dormir e jogar videogame, mas preciso enfrentar o mundo!". Sim. Apenas sim. Que brilhe na hora em que anunciarem os votos do público, ainda mais com esse stage.
8 • Pasha Parfeni - Soarele şi Luna | Moldávia
Basicamente uma pintura retratando o folclore romeno/moldavo, mas uma pintura para a qual você pode dançar (?). A música narra um casamento abençoado no meio da floresta, no qual o Sol e a Lua convocam figuras lendárias das florestas da região a proteger o amor que está sendo ali juramentado. É uma história imersiva que merece todo o reconhecimento nesta edição.
7 • Joker Out - Carpe Diem | Eslovênia
Talvez a canção mais autoexplicativa do ano? Uma letra simples com um significado que se faz entender na melodia. Quem entende o título não precisa falar uma palavra de esloveno para saber que o momento em que Joker Out tocar na final deverá ser muito, muito apreciado.
6 • TVORCHI - Heart Of Steel | Ucrânia
Com uma vitória em 2022 que, convenhamos, não levou muito a música em si em consideração, a emissora local fez de tudo para tentar sediar o evento na própria Ucrânia em meio à guerra de alguma forma até a UER (União Europeia de Radiodifusão) determinar que não seria possível, levando a edição de 2023 para Liverpool, no Reino Unido.
A dupla tem estilo. A presença de palco, especialmente do cantor, faz a canção crescer muito. Há um certo significado óbvio implicado pelo palco com os trifólios, mas a letra em si é sucinta no que aborda, passando muito mais uma mensagem de autoconfiança em meio à toxicidade. Para mim, jamais seria simplesmente viés político se por acaso a Ucrânia repetisse o feito do ano passado.
5 • Mae Muller - I Wrote a Song | Reino Unido
Eu não sei dizer exatamente o que me faz gostar tanto desta música. Talvez a expectativa de ver a performance ao vivo? Talvez a nostalgia de ouvir músicas pop internacionais tocarem em rádios com mais frequência e apreciar isto? Algo nesse toque é completamente satisfatório. Sorteada para ser a última apresentação da noite, Mae se encarregará de um encerramento muitíssimo apropriado para uma edição promissora.
4 • La Zarra - Évidemment | França
Países de língua latina se aproveitam muito do quão bem seus idiomas harmonizam com melodias. O carisma de uma apresentação em idioma nativo pesa, e nesse caso, é somado a um arranjo com ritmo contagiante e uma letra que, dentre as desta edição, foi uma das que pessoalmente mais gostei. Tem tudo para fazer a França voltar à parte de cima da tabela após 2022.
3 • Käärijä - Cha Cha Cha | Finlândia
É por este tipo de apresentação que programas musicais de qualquer magnitude vivem e respiram. O palco feito de paletes, a coreografia e os figurinos extravagantes, a letra falando sobre simplesmente beber um pouco e se libertar, abandonar uma persona saturada feita para os dias de semana; e a música que, segundo Käärijä, propunha na concepção juntar de pop a heavy metal passando por música eletrônica industrial. O resultado é uma das canções favoritas a vencer a edição de 2023. Reclamaria de jeito nenhum se acontecesse.
2 • Sudden Lights - Aijā | Letônia
Pela recepção, simplesmente a canção mais subestimada do ano. O refrão e os riffs são capazes de teletransportar um ser humano. A letra, de longe, foi a que mais me atingiu este ano, talvez uma das minhas favoritas de todas as edições: ela propõe conforto, e mesmo que o eu-lírico não acredite que algo poderá ficar bem, ele sacrifica esta convicção pelo bem da mente do interlocutor. A progressão vai de algo intenso, com batidas rápidas, a algo lento no fim, de melodia confortante. Demorarei a me cansar de ouvir e espero muito, de verdade, ouvir de novo na final no dia 13 de Maio.
1 • Lord of the Lost - Blood & Glitter | Alemanha
Jamais fingirei imparcialidade: eu amo Lord of the Lost. Ansiava pelo ano em que a Alemanha mandaria algo da gigante cena gótica que existe no país: finalmente aconteceu! Acompanhei a seletiva, torci, e por mais que seja improvável que ganhe, talvez sequer tenha uma boa colocação no fim… eu vou ouvir uma das minhas bandas favoritas nesta atração de TV europeia que eu estranhamente amei conhecer e acompanhar desde os anos mais fechados de coronavírus. A música estampa muito bem a identidade da banda e do som que ela faz, e ao mesmo tempo, pode ser agradável e carismática para ouvintes não familiarizados com o estilo. A harmonia é impecável e os vocais graves e guturais do Chris Harms são perfeitamente executados nas apresentações. De forma disparada, é minha favorita em uma edição cujas canções me agradaram em sua maioria. É isso, perdoem-me, mas neste ano, sou uma grande fangirl e estou feliz ♥
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